Sinceramente,
já não me lembrava como era a sensação, como era saber que vamos perder a
pessoa que amamos. Já não me lembrava como era ficar no nosso canto numa espera
dolorosa que o fim chegue. Como era implorar por alguém. E lembrar-me da
sensação faz-me lembrar do porquê de sempre prometer a mim mesma que não me
volto a apaixonar. Eu só não consigo passar por isto. Não outra vez. Não tão
cedo. Não sem dar tudo de mim. E o problema é saber que a culpa é minha. Saber
que todas as minhas lágrimas foram causadas por mim. Saber que nada do que diga
ou faça vai mudar as atitudes que já tive. Saber que talvez nada do que diga ou
faça mude a tua opinião sobre nós. E o mais assustador é não saber por que
espero. Não saber se vamos fazer as pazes ou se vais simplesmente desistir. E
bolas, estou com tanto medo. És a última pessoa que quero perder mas talvez eu
mereça. Dei importância às coisas erradas. Dei mais importância às vezes que
não vinhas ter comigo do que àquelas que vinhas. Dei mais importância ao que
diziam de ti do que àquilo que me mostravas. Dei mais importância às vezes que
me tratavas mal do que às vezes que me tratavas bem. Deixei a minha cabeça
criar coisas que não eram verdade. Enfim, vejo que não te dei o devido valor e
não podia estar mais arrependida. Mas talvez já não haja nada a fazer. E eu
tenho de aceitar porque a culpa é minha. Não há nada que possa dizer para me
defender. Não há nada que possa fazer para não te perder porque o que havia
para fazer já o devia ter feito. E agora resta-me o quê? Chorar? Chorar até
ficar com os olhos inchados e com a cabeça pesada. Chorar porque vou perder
alguém que procurei durante tanto tempo. Chorar porque não vou voltar a acordar
junto a ti. Porque não vou voltar a entrelaçar as minhas mãos nas tuas. Porque
vou ter saudades e não vou ter como as matar. Chorar porque a culpa é minha.
Porque não vamos fazer mais maratonas de séries. Porque não me vais voltar a
chamar nomes de comida. Porque estraguei isto de tal maneira. Porque te amo.
Porque sei quanto tempo vou continuar a amar. Porque não vou voltar a fazer
tostas para ti a meio da noite. Não vou voltar a bater o café durante séculos
para ter a certeza que fica perfeito para ti. Porque provavelmente vais
desaparecer da minha vida. Porque eu realmente mereço. Pedi demasiado de ti e,
por isso, vou acabar sem nada.
É estranho. Estranho o modo como parecendo tão bem, me sinto paralelamente tão vazia. Tento encontrar palavras para o descrever mas apenas existe um vazio. Procuro desesperadamente agir normalmente, não falar nisso, não pensar no assunto, esquecer-te. Mas quanto mais se procura esquecer, mais fácil é lembrarmo-nos. E isso está a acabar comigo. Não quero lembrar-me de uma mentira tão bem orquestrada por ti. Não quero sequer relembrar o modo como sempre acreditei em tudo o que dizias sem sequer pôr em causa. A mentira estava diante de mim e eu decidi acolhê-la, fechar os olhos à verdade e perdoar sempre. Escolhi-te todas as vezes para no fim acabares a escolher outra. Ridículo, não? Ao mesmo tempo, não há ninguém que queira ouvir o que tenho a dizer sobre ti. Todos, mesmo todos, me avisaram. E, neste momento, o esperado de mim seria já ter esquecido. Mas apesar de ter sido só mais um dos teus casos amorosos, eu escolhi-te como meu único. E eu sinto que perdi alguém que realmente gosta
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